quinta-feira, 21 de maio de 2009

A CRISE ECONÔMICA E A CRISE DE REALIDADE DA PROPOSTA DOCENTE

A CRISE ECONÔMICA E A CRISE DE REALIDADE DA PROPOSTA DOCENTE

A atual crise econômica revelou de forma extremada aquilo que nós já sentíamos no dia-a-dia da nossa graduação: a ausência completa da realidade naquilo que estamos aprendendo. Ou nas palavras do insuspeito Celso Furtado, para quem o jovem formado em economia “perceberá, em pouco tempo, que se tudo que aprendeu não é totalmente inútil, quase tudo que é realmente útil ele deixou de aprender.” (FURTADO, 1962). É fácil aferir se esta conclusão de Furtado é válida para os jovens formados hoje em economia na UFSC. Será que estamos sendo capacitados para responder ao presidente de nossa empresa se a atual conjuntura de crise vai afetar os preços de seus insumos importados? Ou se afetará a demanda de suas exportações? E a demanda do mercado interno? Será que estamos sendo preparados para indicar ou não aos titulares da carteira de investimentos que gerenciamos a compra de ações da Sadia ou da Perdigão diante desta iminente fusão? Ou ainda, será que estaremos em condições de sugerir a uma comissão interministerial do governo se é mais vantajoso economicamente colocar o pré-sal sobre monopólio da Petrobrás, realizar leilões concorrenciais, ou ainda criar uma nova estatal?

Como podemos perceber a tarefa que temos diante de nós é gigantesca se realmente queremos aproveitar a reforma curricular para construir um curso de qualidade. Nestes termos, o vergonhoso título que carregamos hoje de ser um dos últimos cursos do Brasil que ainda não se reformulou pode ser revertido em nosso favor.. O fato de podermos reconstruir todo nosso curso já conscientes da crise estrutural pela qual passamos permite nos adiantarmos aos cursos de todo o país para erigir aqui na UFSC o curso mais preparado para enfrentar as transformações mundiais.

Neste sentido o diálogo de surdos que se estabeleceu entre professores e estudantes nada vêm a contribuir. Mas é preciso deixar claro como e por que chegamos a este ponto. Após ver dois anos (2005 e 2006) de muita discussão em uma comissão formada por professores e estudantes não obter nenhum resultado prático; e principalmente, ver os últimos dois anos (2007 e 2008) de uma coordenação totalmente atribulada que não ouvia nem estudantes nem professores; resolvemos, por falta de opção, tomar as rédeas do processo e estabelecer uma dinâmica própria.

Sem jamais negar a importância dos professores, que deveriam a priori ser os protagonistas do processo, os estudantes formaram um grande grupo constituído por todas as fases do curso, se dividiram em comissões, debateram princípios, analisaram criticamente nosso curso, pesquisaram outros currículos, passaram de sala em sala do curso, e principalmente, de sala em sala dos professores, ouvindo-os, convocando-os a participar do projeto e agregando muitas de suas sugestões. O resultado todos já conhecem: uma proposta POLÍTICA, DIDÁTICA E PEDAGÓGICA de transformação do curso, elogiada por diversas figuras nacionais como o ex-presidente da ANGE, que nossos professores conhecem e admiram, Rubens Sawaya.

Entretanto, hoje, após quatro anos de inércia, os professores surgem com uma nova proposta que impressiona pela indiferença com que trata os principais pontos levantados pelos estudantes durante todo este processo. Diante de tamanha tarefa que a crise econômica e, principalmente, que o nosso próprio atraso nos impõe, nossos mestres nos oferecem SOMENTE uma reforma CURRICULAR, que não obstante a limitação daí já derivada surpreende pela improvisação.

Embora a primeira vista a proposta PAREÇA bem diferente do curso que temos hoje é necessário salientar que ela não toca no essencial. Pois ainda que tenhamos mais flexibilidade, menos pré-requisitos e algumas mudanças de localização nas disciplinas, perceberemos rapidamente, se esta proposta for implantada, que as aulas são as mesmas, os métodos didático-pedagógicos continuam a ser antididáticos e antipedagógicos, a mesma transparência de duas décadas reflete-se no quadro, a provinha de V ou F se mantêm, os livros utilizados são os mesmos, as saídas a campo permanecem excluídas e as optativas que deveriam nos dar liberdade na complementação de nossa formação se mantêm “optatórias” pois dependem da boa vontade do professor para serem oferecidas, e aos estudantes só resta a opção de escolher a única que foi oferecida. Se nós estudantes queremos um curso completo que realmente nos capacite para o futuro, não podemos aceitar somente uma mudança curricular. Quando reivindicamos a presença da realidade na nossa formação estamos falando de atravessar todo curso por ela.. Não estamos apenas falando de saídas a campo, mas também de novos métodos didáticos pedagógicos, de novos métodos avaliativos, de novos conteúdos e renovação bibliográfica, enfim de uma mudança estrutural do curso.

Entretanto, ao apresentar tal proposta á comunidade, os professores dão clara amostra de que ignoraram todo o processo e todas as contribuições formuladas pelos estudantes nestes dois últimos anos, e a continuar nessa toada o atual diálogo de surdos só tende a se aprofundar.

Nós estudantes, se realmente queremos um curso de qualidade devemos defender nossos interesses utilizando de todos os meios necessários. Caso contrário, teremos que dar razão aqueles professores para os quais o problema do curso é “os estudantes”, que não estão interessados em estudar, que são vagabundos. Defender um projeto realmente transformador, defender um curso de qualidade, defender a nossa formação profissional é defender os nossos interesses estudantis com a máxima atenção e responsabilidade que somente nós podemos fazer, e principalmente, reafirmar aos professores, como já fizemos ao elaborar uma proposta de curso, que estamos sim interessados em estudar, que não somos vagabundos e que, se mesmo após a reforma a qualidade do curso se manter nos patamares atuais os (ir)responsáveis, os desinteressados, os vagabundos não somos nós.

Então todos ao fórum amanhã mostrar quem somos e o que queremos!

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